03/03/17

abuelas de plaza de Mayo

A associação civil "avós da praça de mayo" (abuelas de plaza de Mayo) é uma organização não governamental de direitos humanos, na Argentina, cujo objetivo é localizar, identificar e restituir às suas famílias legítimas as crianças sequestradas pela ditadura militar (1975-1983), bem como criar as condições para prevenir a ocorrência de crimes desta natureza no futuro e assegurar a condenação de todos os responsáveis envolvidos.

Conheci esta associação na minha viagem à Argentina, este ano. Viajar é, sem dúvida, uma das melhores formas de conhecer as histórias (boas e más) deste mundo. E não fosse esta viagem, e talvez nunca tivesse houvido falar (ou dado a devida atenção!) a este episódio histórico tão relevante.



Durante a ditadura militar argentina, reconhecida como a mais violenta da América do Sul, os militares assassinaram cerca de 30 mil civis, entre eles crianças e idosos. Foram também responsáveis pelo sequestro de mais de 500 bebés, filhos de mulheres grávidas capturadas, que entretanto nasceram em cativeiro, em maternidades clandestinas. A seguir ao nascimento, essas mulheres acabariam por ser mortas, e os seus filhos eram entregues aos militares que os registavam como filhos próprios, abandonavam em instituições ou vendiam a outras familias.

Com a morte de mãe e pai, restaram os avós destes bebés como única ligação à família original. E foram precisamente as suas avós que iniciaram buscas individuais pelos seus seus netos em orfanatos, analisando as listas de adoção da época, ou mesmo recebendo informações clandestinas por parte da população. Em 1977, as avós começaram a unir-se no que foi a génese desta associação hoje organizada e com atuação concertada. Ainda hoje muitas avós continuam a procurar os seus netos - agora adultos - e os seus bisnetos, com o intuito de os restituir à sua identidade familiar original. Atualmente, e segundo informações no seu site oficial, 121 netos já encontraram as suas avós.

As avós da praça de maio ficaram também conhecidas pelo seu envolvimento com a comunidade científica, em particular universidades e grupos de investigação, no sentido de encontrarem uma forma científica de reconhecer a consanguinidade com os seus netos - à época apenas existia a possibilidade de realizar exames de paternidade.. mas os pais estavam mortos!
Foi assim que surgiu o "indíce de abuelidade" (honestamente não me atrevo a traduzi-lo para português), que foi utilizado como prova em tribunal, pela primeira vez, em 1984, com garantias de 99,99% de resultados. Também nos anos 80, as avós iniciaram a criação de um banco genético para armazenamento dos seus perfis genéticos e de netos que fossem sendo identificados.

A acção das avós na condenação dos responsáveis por estes crimes de guerra foi também determinante para o processo. Com algumas restrições nas décadas de 80 e 90, em 2003 os responsáveis identificados pelo sequestro e abandono/venda de crianças começaram a ser formalmente julgados e condenados culminando, em 2012, com a condenação do ex ditador Valdes a 50 anos de prisão.

Pela sua proximidade histórica e pela magnitude emocional do tema, a luta das avós da praça de Maio é algo ainda muito presente na Argentina, e muito visivel nas ruas, em particular em Buenos Aires, conhecida pelo seu espirito ativista e comprometido com causas de direitos humanos de diferentes naturezas.
SHARE:

Sem comentários

Enviar um comentário

© grandstories. All rights reserved.